Às 18 horas de sábado, uma das salas do Trump Hotel, em Washington,
começou a receber convidados para o evento prévio à chegada de Jair
Bolsonaro. A recepção, uma homenagem ao escritor conservador Olavo de
Carvalho, foi organizada pelo ex-estrategista de Trump e agitador de
movimentos populistas de direita Steve Bannon. O deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL) se antecipou à comitiva presidencial para participar do
evento, que concentrou críticas à imprensa e aos "traidores" que cercam o
presidente.
Questionado se estava otimista com o Brasil, Olavo de Carvalho
afirmou: "Não, não, não. Vou ser sincero. Eu amo esse cara, o Bolsonaro.
Mas ele está rodeado de traidores, eu não confio em praticamente
ninguém no governo exceto nele", disse Olavo. Depois do evento, o jornalistas, Olavo chamou o vice-presidente
Hamilton Mourão de "um cara idiota". "O presidente viaja e qual a
primeira coisa que ele faz? Viaja a São Paulo para um encontro político
com Doria. Esse cara não tem ideia do que é vice-presidência. Durante a
viagem, ele tem que ficar em Brasília", afirmou Olavo. Ele disse que
Mourão, desde a posse, mudou de lado e é "pró-aborto, pró-desarmamento e
pró-Nicolás Maduro".
Ao dizer que Jair Bolsonaro está "de mãos amarradas", Olavo de
Carvalho afirmou que a situação do governo vai mal. "Se tudo continuar
como está, já está mal. Não precisa mudar nada para ficar mal, é só
continuar isso mais seis meses e acabou", disse o filósofo a jornalistas
após evento em Washington, organizado por Steve Bannon.
Ele aponta como problema a mídia e os conselheiros do presidente.
Olavo afirma que a mídia tenta dar um "golpe de estado" e publica
"mentiras" contra o presidente. Segundo ele, o presidente não leva as
questões para a justiça porque os militares no governo não deixam.
"Ele não reage porque aquele bando de milico que o cerca é tudo um
bando de cagão, que tem medo da mídia. Por que eles têm medo da mídia?
Porque quando terminou a ditadura militar, eles viram que estavam todos
queimados com a mídia, foram para casa e decidiram agora fazer o papel
de bonzinho. O que o Bolsonaro tem a ver com isso? Nada", disse Olavo."É
um homem sozinho, não pode confiar nos que o cercam, não pode confiar
na mídia."
Críticas à imprensa permearam todo o evento. Olavo disse que os
jornalistas fazem parte de uma elite intelectual e que os formadores de
opinião estrangeiros precisam buscar outras formas de ter informação
sobre o País, que não via imprensa. Ao falar sobre a imagem de Bolsonaro
no mundo - criticada de veículos estrangeiros por posições consideradas
racistas e preconceituosas -, Olavo afirmou que "a imagem é um mito
criado pelos jornalistas". "Os jornalistas brasileiros são, a maioria,
viciados em drogas. Não estou exagerando", afirmou.
Eduardo Bolsonaro também criticou a imprensa e disse que "as pessoas
não acreditam mais na mainstream media", dizendo que canais alternativos
de apoio ao governo têm mais engajamento nas redes sociais do que o dos
jornais tradicionais. "Isso é poder, o poder está conosco agora", disse
Eduardo.
O evento reuniu cerca de 60 pessoas em uma sala do Trump Hotel,
reduto de republicanos, entre americanos e brasileiros. Diplomatas da
embaixada do Brasil em Washington estiveram presentes, entre eles Nestor
Forster, cotado para assumir o posto de embaixador nos EUA.
Ex-embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon era um dos convidados
presentes.
A aproximação do clã Bolsonaro com Bannon incomoda parte da Casa
Branca. O ex-estrategista de Trump foi demitido em 2017 e já foi chamado
de traidor pelo próprio Trump. Nos EUA, parte do governo americano vê
com maus olhos a proximidade entre o filho de Bolsonaro e Bannon - que
também foi convidado para o jantar com o presidente. O evento de sábado
foi uma exibição do filme Jardim das Aflições, de Josias Teófilo, sobre
Olavo de Carvalho
Ideologia
Na apresentação do evento, Gerald Brant, integrante do mercado
financeiro responsável por unir Steve Bannon à família Bolsonaro e a
Olavo de Carvalho, disse que o evento e a chegada de Bolsonaro à
presidência eram um sinal de que o movimento conservador conseguiu
chegar longe no Brasil.
Olavo, contudo, disse que Bolsonaro não tem ideologia. Olavo de
Carvalho disse que Bolsonaro foi eleito porque representava um "mal
menor" do que Fernando Haddad, que concorreu à presidência pelo PT em
2018. "Por isso que ele foi eleito, não por causa de suas ideias
políticas que até hoje não sei quais são. Eu já vi Bolsonaro dar opinião
sobre um assunto ou outro, mas nunca vi ele dar uma concepção geral,
uma ideologia. Você pode acusá-lo de que as ideias dele são incoerentes,
mas essa é a maior prova de que ele não tem ideologia nenhuma", disse
Olavo, sob aplausos tímidos.
Bannon e Olavo de Carvalho se conheceram em janeiro e, agora, o
americano disse querer levar o pensamento de Olavo ao mundo e computa ao
filósofo a ascensão de Bolsonaro. "Ideias têm consequências. Uma das
consequências das ideias do professor Olavo é o capitão Bolsonaro",
afirmou Bannon.
Olavo de Carvalho chama Mourão de 'idiota' e diz que governo 'vai mal'
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março 18, 2019