Em meio a bate-boca, Moro deixa sessão na Câmara sob gritos de 'fujão'
0Alaelton Santosjulho 03, 2019
Sob gritos de "fujão" e "ladrão" e acompanhado de escolta, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro,
deixou às 21h40 de hoje a audiência da Câmara de Deputados sobre as
mensagens que teria trocado com procuradores da Lava Jato, divulgadas
pelo site The Intercept desde o mês passado.
A deputada Professora
Marcivania (PCdoB-AP), que presidia a comissão naquele momento,
encerrou a audiência após um bate-boca generalizado tomar conta da
sessão, que se arrastava por mais de sete horas e ainda tinha dezenas de
deputados inscritos para fazer perguntas ao ministro.
O
depoimento de Moro começou por volta das 14h. Passava das 21h quando o
deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), da oposição ao governo Bolsonaro,
afirmou que Moro era um "juiz ladrão".
"O senhor vai estar sim nos
livros de história, vai estar como um juiz que se corrompeu, com um
juiz ladrão. É isso o que vai estar nos livros de história", disse
Braga.
Indignados, parlamentares governistas se levantaram e foram para cima do colega. Os ânimos se acirraram.
Em
meio à confusão, o ministro saiu por uma porta lateral. A deputada
Marcivania declarou encerrada a audiência, voltou atrás, a pedido de
colegas, e finalmente acabou finalizando os trabalhos após a constatação
de que o ministro havia ido embora. A
confusão teve duelo verbal entre os deputados federais Alexandre Frota
(PSL-SP) e Zeca Dirceu (PT-PR) - que saíram em defesa, respectivamente,
de Moro e de Braga. "Seu pai está preso! Seu pai está preso!",
gritou Frota, em referência ao ex-ministro José Dirceu, preso após
investigação no âmbito da Lava Jato. Zeca rebateu dizendo que "ao menos
ele estava na sessão", ironizando a saída de Moro.
Além do bate-boca, guerra de cartazes e ironias, a sessão foi marcada por poucos argumentos novos:
Ele voltou a questionar a autenticidade das mensagens divulgadas e afirmou que alguém pode ter alterado o conteúdo publicado;
Disse também que não houve "conluio" entre ele quando era juiz e o "Ministério Público";
Reiterou que as mensagens têm o objetivo de "invalidar condenações"
Mas também trouxe argumentos novos:
O ministro da Justiça disse que não protagonizou a Lava Jato;
"Nunca me coloquei numa posição central nessa operação. Isso é uma coisa que eu particularmente rejeito" Sergio Moro, sobre acusação de ter interferido nas atividades do Ministério Público
Ele
acusou ainda o the Intercept de querer ser "mártir da imprensa", por
não ter consultado as partes envolvidas nos diálogos antes da
publicação;
Moro voltou a cogitar que "pode ter dito" algumas das mensagens divulgadas - como a frase "In Fux we trust" ("Em Fux confiamos"), em referência ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
"Eu
posso ter dito, eu não lembro, isso foi em 2016. Seria uma paródia do
dólar norte-americano. Algo mais inocente possível, se é que isso foi
empregado". Sergio Moro, sobre mensagem que teria enviado ao procurador da República, Deltan Dallagnol Após
a afirmação do ministro, o jornalista Glenn Greenwald, cofundador e um
dos autores das reportagens do site The Intercept Brasil, postou em seu
Twitter que as ameaças de Moro não intimidarão o veículo. "Nenhuma
intimidação ou ameaça interromperá as reportagens. Ameaças do estado só
servem para expor seu verdadeiro rosto: abuso do poder - e por que eles
precisam de transparência de uma imprensa livre", disse.
Moro
também classificou as críticas sobre as mensagens como "ataque
político-partidário" com o objetivo de tentar anular condenações da Lava
Jato.
"Hackers criminosos invadem aparelhos de
agentes da lei para anular condenações criminais e por outro lado
impedir novas investigações. Quando se reclamam de condenações que têm
que ser anuladas, normalmente a referência é a um único personagem, mas
ninguém se levanta para defender Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Renato
Duque ou todas aquelas mais de 100 pessoas que foram condenadas por
corrupção e lavagem de dinheiro".
Argumentos da oposição:
Moro teria aceitado nomeação no governo Bolsonaro como recompensa por tirar Lula da disputa eleitoral;
Dois deputados do PT sugeriram que Moro abrisse mão do sigilo do celular para provar que não é autor das mensagens divulgadas;
Deputados
da oposição dizem que os diálogos mostram que Moro teria perdido a
imparcialidade necessária para julgar processos da Lava Jato, o que
poderia levar à anulação da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT)
"Ao aconselhar a substituição ou o
treinamento [de uma procuradora], vossa excelência sai do papel de juiz
julgador e passa pro lado da acusação? Não fica claro que nesse momento
vossa excelência perde o principal capital político de um juiz na
democracia, que é a imparcialidade?" Deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).
Como os governistas defendem Moro:
Deputados do PSL afirmam que as conversas divulgadas não revelam ato irregular de Moro;
Aliados do governo também dizem que o objetivo das críticas a Moro é libertar o ex-presidente Lula;
Deputados
da situação também dizem que a oposição quer ofuscar os escândalos de
corrupção que teriam ocorrido no governo do PT - e fizeram referência à
planilha de Odebrecht e a apelidos de petistas registrados na lista de
repasses da construtora
"[O objetivo] principal de
todos é a libertação de Lula, outro objetivo era a desconstrução da Lava
jato e de sua principal figura, por que não dizer mítica, Sergio Moro.
Tinha um terceiro grande objetivo que era desconstruir e impingir
[impor] uma grande derrota ao governo" José Medeiros (Pode-MT).