O presidente
Jair Bolsonaro assinou nesta quinta-feira (11) o projeto de lei que
pretente regulamentar a educação domiciliar no Brasil. O texto não foi
divulgado e ainda não está publicado no "Diário Oficial da União". A
proposta estava entre as prioridades dos 100 primeiros dias de governo, completados nesta quarta.
Antes de entrar em vigor, o texto precisa tramitar no Congresso.
Antes de entrar em vigor, o texto precisa tramitar no Congresso.
Além deste projeto de lei, Bolsonaro assinou um decreto que institui a Política Nacional de Alfabetização e
estabelece as diretrizes para as futuras ações e programas. Ele também
assinou o projeto de lei ordinária do Bolsa Atleta, que pretende
modernizar o programa, segundo o governo. Estes textos não foram
divulgados e ainda não estão publicados no "Diário Oficial da União".
A educação domiciliar é uma modalidade de ensino em que pais ou tutores
assumem o processo de aprendizagem das crianças, ensinando a elas os
conteúdos ou contratando professores particulares. No entanto, não havia
regras para a prática até então.
No artigo 205, a Constituição trata a educação como um “direito de
todos e dever do Estado e da família”, a ser “promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade”. O objetivo é o “pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho”. O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que os
menores tenham "acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência".
Assim, deixar de matricular crianças na escola poderia ser interpretado como abandono intelectual.
Assim, deixar de matricular crianças na escola poderia ser interpretado como abandono intelectual.
Agora, a medida provisória traz, segundo o governo, "os requisitos
mínimos que os pais ou responsáveis legais deverão cumprir para exercer
esta opção, tais como o cadastro em plataforma a ser oferecida pelo
Ministério da Educação (MEC) e possibilidade de avaliação".
A Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), estima que sejam
7,5 mil famílias ou cerca de 15 mil estudantes que praticam este tipo de
ensino. Em comparação, foram registradas 48,5 milhões de matrículas nas
181,9 mil escolas de educação básica do país, segundo o Censo Escolar
2018, do MEC.
Em setembro de 2018, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que educação domiciliar exigiria a aprovação de uma lei que assegurasse a avaliação do aprendizado e da socialização das crianças.
No governo de Jair Bolsonaro, o tema ficou a cargo do Ministério da
Mulher, Família e Direitos Humanos. Em janeiro, a ministra Damares Alves
disse à colunista do G1 Andreia Sadi que a educação domiciliar (ou "homeschooling") garante aos pais o poder de gerenciar o aprendizado dos filhos e até ensinar mais conteúdo.
"O pai que senta com o aluno duas, três horas por dia, pode estar aplicando mais conteúdo que a escola durante quatro, cinco horas por dia", disse Damares Alves.
Quem pratica a educação domiciliar no Brasil?
A maior parte das famílias adeptas do "homeschooling", ou educação domiciliar, é crítica às escolas e ao método de ensino tradicional.
"Isso pode ter muitas motivações, por exemplo religiosas, de a escola
ensinar diferente da fé que a família professa; econômicas, de pagar-se
impostos sem ter educação (pública) de qualidade; de dificuldade da
escola em integrar a criança com deficiência ou pela dificuldade de
adaptação da criança ao processo escolar", explica Maria Celi Chaves
Vasconcelos, professora da Faculdade de Educação da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e autora de tese de doutorado sobre o
tema.
Dias explica que o modelo não exige que o pai e a mãe dominem todo o
conteúdo escolar, nem que sigam a estrutura de disciplinas e conteúdo
tradicionais: "Eles passam a ser mediadores - não precisam saber tudo,
mas sim saber ensinar seu filho a aprender e a se tornar um autodidata.
As crianças também fazem cursos esportivos, de idiomas e Kumon, por
exemplo".
As críticas mais comuns ao método são sobre a possibilidade de a
criança ter uma socialização mais restrita e não ter acesso a outras
formas de ver o mundo. Outras dizem respeito à proteção dos menores, já
que a escola geralmente identifica violências praticadas dentro de casa
contra as crianças.
Para Carlos Vinícius Reis, diretor-executivo da Associação Nacional da
Educação Domiciliar (Aned), a pouca socialização é um mito. "Na escola,
as crianças ficam restritas a um grupo. Na educação domiciliar, ela pode
ir a museus, praticar atividades esportivas, ter acesso a mais de um
grupo de socialização", defende.



